quinta-feira, 29 de maio de 2014

Navegando e aprendendo

         A latitude é de 2º ao sul em relação a linha imaginária do Equador, longitude 44º a oeste da linha imaginária que tem a cidade de Greenwich, na Inglaterra, como parâmetro.

         A convite do Fernando Previdi, voei de Joinville, maior cidade do estado de Santa Catarina, que fica ao lado da ilha de São Francisco do Sul, até essa outra ilha chamada São Luís, maior cidade e capital do estado do Maranhão.

         Nesse exato momento estamos eu, Fernando Previdi, Comandante Glauco Vaz e o pessoal do estaleiro provisionando o Guina, um portentoso e imponente catamarã de 47 pés, construído aqui em São Luís. A capital do estado do Maranhão tem essa fama entre os amantes da navegação muito provavelmente devido a uma característica peculiar da região: a amplitude de maré pode chegar a 8 metros. Para a navegação amadora isso se torna um problema, pois nos locais mais abrigados e menos profundos as embarcações hora estão flutuando com a maré alta, hora estão no seco. A maioria dos veleiros oceânicos são mono cascos com quilha fixa. Esses barcos sofrem um bocado aqui, a cada maré seca inclinam (adernam) e assim permanecem até a maré subir novamente normalizando a situação. Teoricamente, e a longo prazo,  isso pode causar algum dano ao barco, por esse motivo, os amantes da navegação que aqui residem acabaram resolvendo o problema optando por catamarãs e os estaleiros adaptaram-se a esse mercado resultando na fama justificada.



         O objetivo é claro: descermos com o Guina até o litoral de São Paulo.

         Faremos várias pernas para a conclusão do delivery, são elas:

São Luís/MAFortaleza/CE
Fortaleza/CERecife/PE
Recife/PESalvador/BA
Salvador/BAVitória/ES
Vitória/ESAngra/Paraty/RJ/Ilhabela/SP

A Almiranta gostaria muito de participar dessa empreitada mas, minha sogra não pôde ficar cuidando das crianças e então Luciane embarcará nas últimas pernas. Estarei ausente na data do aniversário dela e na de aniversário de nosso namoro e mesmo com saudades um do outro e das crianças, não vamos pestanejar, a hora é essa, o Mar nos chama, a aula vai começar!

Narrarei através de relatos e fotos essa jornada pela costa brasileira e agradecemos de antemão ao Fernando e família pelo privilégio em compor a tripulação da viagem inaugural do Guina.


Abraços desde a baía de São Marcos!

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Spinelli pelas águas da Babitonga


Esta semana, vindo de Itajaí, chegou Spinelli a bordo de seu veleiro Soneca. Tio Spinelli, como gosta de ser chamado, é um experiente mergulhador e professor e seu interesse por embarcações começou por causa dessa atividade. Capitão Amador pela Marinha do Brasil desde 1982, teve como colega de turma para a graduação, Amyr Klink. Construtor amador, seu primeiro barco foi uma traineira que reencontrou, saudoso, em Joinville. O veleiro viria um pouco depois, pois sua construção demandaria 11 anos.

Foi uma semana aportado pelas águas da Babitonga. Logo que chegou, jogou o ferro em frente ao Centro Histórico de São Francisco do Sul onde acontecia a Festilha (Festa das Tradições da Ilha). O cansaço era tamanho, depois de doze horas navegando entre Itajaí e nossa ilha, que tão logo chegou, preparou seu almoço, comeu e simplesmente despencou em seu beliche de popa sem nos ouvir chamá-lo logo depois. Até cogitamos sua ausência no barco, mas o bote de apoio confirmava o contrário.

No outro dia combinamos de nos encontrar no Museu Nacional do Mar, que fica quase ao lado de onde estava fundeado. Ele viria com o barco e nós por terra. Jogou o ferro pela proa e amarramos a popa no cais. Depois, por causa do movimento de embarcações, a âncora garrou um pouco, o suficiente para a popa encostar no cais danificando um pouco o leme de vento. Spinelli ficou um pouco apreensivo mas eu o tranquilizei dizendo que em Joinville faria o reparo pois é uma cidade fabril, voltada à mecânica.

Em Joinville pôde ajudar quatro jovens marinheiros que trabalham em iates a entender melhor as matérias para o prova de Capitão. Eles pediram ajuda a ele logo que chegou, pois não haviam conseguido passar na primeira prova. Spinelli então ficou um pouco mais em Joinville motivado pelas aulas que lecionou em troca apenas de quantas diárias fossem necessárias a sua permanência. Nesse ínterim fez o reparo no leme de vento e ficou de olho na previsão do tempo, esperando o melhor momento de zarpar.

Pedi a ele que passasse por aqui, no Capri, antes de zarpar definitivamente em direção a Santos, última escala antes de retornar ao seu porto, o Saco da Ribeira, Ubatuba, litoral norte do estado de São Paulo.

Cesar ficou de prontidão no Capri aguardando a chegada de Spinelli vindo de Joinville. Veio a motor devido a ausência de vento. Os dois trocaram muitas figurinhas, ainda não conheciam-se. Comemos uma pizza à noite e jogamos muita conversa fora, com os assuntos todos variando, mas girando sempre em torno da Vela. Fato inusitado é que não bebo, ou quando o faço, é uma quantidade irrisória, Cesar e Spinelli também não. O dono da pizzaria, por cortesia, me serviu uma cerveja Opa, feita artesanalmente em Joinville. Estava até engraçado, eu, o único a beber na mesa. Dessa forma, pudemos conhecer melhor Spinelli, pessoa muito educada, que nos deu um banho de experiências inusitadas, como uma viagem que fez à Cuba para mergulhar, e muita informação pertinente a respeito de barcos e náutica.

Foi uma semana na baía Babitonga que nos rendeu uma ótima visita e, acredito, deve ter lhe propiciado uma agradável vivência. Ficamos muito felizes de recebê-lo por nossas águas e espero que tenha gostado tanto quanto nós.


É com esse espírito que nos despedimos desejando bons ventos, até a próxima!


Requisitei a ajuda de motonautas para acordar Spinelli, o que, não foi possível



Soneca atracado no Museu Nacional do Mar


Últimos acertos


Esperando a hora exata da maré vazar




Muitos alimentos selecionados por sua esposa especialmente para essa viagem


Esse é o Spot, que mostra a posição do navegador para quem fica em terra



Saída pelo Canal Iriri


segunda-feira, 5 de maio de 2014

Por uma Maçã


Lelê, Joanna e Clara

        Sexta-feira, segundo dia do mês de maio. Mais um dia de sol na Ilha Encantada, desde cedo. Não havíamos programado nada, porém, o dia bonito nos impôs a condição sine qua non. Foi eu “cantar a bola” e a resposta foi unânime; todos queriam velejar.

         Pouco antes do almoço liguei para Dom Cesar combinando a saída, que desta vez contaria com o embarque de duas tripulantes novatas, Joanna e Clara, amigas da Lelê, nossa filha. De brinde levaríamos nosso chaveirinho, o Victor.

         O vento era de sudoeste, pouco comum por aqui, quem sabe existia uma influência de um ciclone localizado no litoral do Rio Grande do Sul, isso ocasionou rondadas de sueste com relativa intensidade, causando certo desconforto na navegada. Estávamos no través da praia do Capri quando recebíamos essas rajadas que calculo ter atingido uns 25 nós, depois o vento voltava a soprar de sudoeste entre 12 a 15 nós.

        Estávamos a todo pano, com mestra e genoa, quando recebemos uma dessas. O barco entrou na direção do vento (orçou) bruscamente, com isso, adernamos bastante e subitamente. Joanna viu seu telefone móvel da maçã deslizar pelo convés em direção ao mar, qual não foi o reflexo dela em apanhá-lo, acabou ficando suspensa no ar e só foi segurada pelo guarda mancebo. A manobra de salvamento do eletrônico custou-lhe um hematoma. Sem arrependimento, depois justificou que a aquisição demandou meses de trabalho. Depois de passado o susto, gargalhadas coletivas e mais uma história para contar.

         Dada a quantidade de vento e de pano, voltamos rapidamente.

     Esperamos que as novas marujas tenham apreciado. Nosso trabalho foi feito, as sementes foram plantadas.


        É com esse sentimento que nos despedimos desejando bons ventos desde a Babitonga!