Semana que passou, Cesar ao telefone
comigo:
̶ Há um veleiro um pouco menor que o de vocês
do outro lado do trapiche, e exibe uma bandeira da Argentina.
Então a curiosidade começou a
funcionar e quis logo conhecer essa pessoa que veio de tão longe num barco que,
aparentemente, foi feito para passeios de final de semana numa baía ou represa.
Tão logo cheguei ao Capri, na casa
de Cesar, juntamos as ferramentas básicas para finalizar um pequeno reparo em
nosso carburador. Cesar o desmontou e limpou inteiro, coisa que ainda não
havíamos feito. Aproveitamos para instalá-lo novamente e quem sabe conhecer
essa pessoa que nos causava enorme curiosidade. Tão logo acessamos o flutuante,
onde um barquinho com o costado laranja fazia companhia ao Hoje!, sai lá de dentro um simpático
senhor, de cabelos e barba branca muito bem feitos, nos cumprimentando. Muito
educado, nos perguntou se havia problema em deixar seu barco fundeado ali,
receando utilizar o flutuante sem autorização. O flutuante foi feito por outro
senhor bonachão, o Pacheco, que nos orientou a atracar ali quando viu que
tivemos problemas com nossas poitas. Nos apresentamos mutuamente e logo
saciamos nossa curiosidade, como crianças e seus brinquedos.
Sr. Vitor nos relatou que veio da
Argentina, Buenos Aires, e subiu até Angra dos Reis com seu valente barquinho e
agora estava retornando. Na vinda, fez uma perna de 13 dias de La Paloma (UY)
até Florianópolis, pegando todo tipo de vento, mas nenhuma tempestade,
reclamando somente de algumas calmarias, fato esse que se resolve fechando o
barco e dormindo, segundo ele. Essa é a terceira vez que sobe o litoral
brasileiro embarcado num veleiro, mas a primeira solo em seu barco. Nas outras
experiências veio em barcos maiores tripulados, numa delas conheceu Fernando de
Noronha.
O barco é um Van de Stadt 21 pés,
modelo Trotter Pandora e foi batizado
de Marangatu por ser o nome do
primeiro veleiro que tripulou quando adolescente nas águas do Rio da Prata em
San Isidro. Marangatu significa boa
pessoa em guarani, coisa que ficou sabendo muito tempo depois. Tudo começou em
sua adolescência, quando dentre várias atividades náuticas oferecidas pelo
colégio, escolheu a vela. Disputava regatas interclasses e foi aí que a paixão
cresceu e se desenvolveu. Mais tarde participou de várias regatas cruzando o
Rio da Prata com destino ao Uruguai. Naquela época participava-se para sentir o
mar, o rio, o vento, etc. O mesmo barco para essas regatas era usado para o
passeio com a família. Hoje compra-se um barco feito especificamente para
regatas e elas são competitivas, perdeu-se o prazer do cruzeiro despretensioso,
o objetivo é vencer. Antes, o importante era participar, não chegar antes;
desfrutar dos elementos, não concentrar-se excessivamente na vitória.
Cesar e Victor
trocando figurinhas, dois experientes velejadores costeiros.
Tão logo a janela de tempo foi
aberta, Victor, o intrépido velejador, estava pronto para partir em direção à
Armação de Itapocorói, Penha (SC). Tivemos um último bate papo descontraído na
casa de Cesar.
O último aceno do
intrépido velejador
Gozando de plena saúde, no auge de
seus 73 anos, Victor é uma prova viva de que os sonhos são feitos para serem
vividos. Partiu em direção à ilha da Paz no final da tarde aproveitando a maré
vazante, desta vez, só utilizou o pequeno motorzinho de popa de míseros 5
cavalos. Pernoitaria lá a fim de seguir viagem bem cedo no outro dia.
Registro da chegada
atrás da Ilha da Paz e a dimensão de sua casquinha de noz diante do oceano e o
Farol.
É com essa história de vida que finalizo
essa postagem demonstrando que os bons exemplos nos movem, basta encontrá-los!
Ricco, coloca esse 'post' como definitivo no seu blog, pois é uma história e exemplo de vida. Não existe idade ou condição que impeça a realização de um sonho, de um desejo, ou simplesmente de velejar...o tamanho do barco não importa!! Parabéns Victor e seu valente Marangatu!! Bons Ventos sempre!!!
ResponderExcluirObrigado pelos elogios e sugestão! Não podia deixar passar essa história e queria compartilhar, sabia que o pessoal da Vela gostaria muito, eu mesmo fiquei boquiaberto. Foi muito bom ter tido contato com esse senhor, a gente muda bastante a ideia de sair pro mar e também em relação ao tamanho do barco, como você bem mencionou.
ExcluirAbraços e bons ventos desde a Babitonga!
Foi meu vizinho de poita durante muito tempo na Vila do Abraão - Ilha Grande. Vocês não sabe o quanto de história o Victor tem. Passou maus momentos.
ResponderExcluirEntão conta aí Luciano!! Ô curiosidade!!
ExcluirNo pouco tempo que ficou fundeado aqui por nossas águas já pude aprender alguma coisa e surpreender-se com esse exemplo de homem do mar.
ExcluirCmte Ricardo, Mil desculpas por não ter respondido antes. Eu não recebi a mensagem. Infelizmente recebi a triste notícia do falecimento do Victor. Quem me escreveu foi a própria irmã do nosso querido velejador. Mas caso queira saber alguns "causos" dele, me escreva em LUILHAGRANDE@GMAIL.COM, ou faça-nos uma visita aqui na Ilha Grande.
ExcluirCordialmente,
Luciano Guerra
Veleiro Araiti
Ilha Grande - RJ
Muito obrigado pela generosidade em lembrar da gente e vir aqui nesse espaço singelo compartilhar dessa notícia. Foi por um lado triste saber do ocorrido, mas por outro, ficamos felizes do privilégio de poder ter o conhecido. A vida é curta e finita, por isso é preciso saber vivê-la.
ExcluirQuando vier ao sul, pode ter certeza, haverá um abrigo amigo na lagoa do Capri. Grande abraço da nossa família à sua desde a Babitonga!
Ola Ricco, tudo bem?
ResponderExcluirEstive na casa da minha mãe no mês de Janeiro em São Chico, e dei uma passada na sua pousada, como era cedo acho que todos estavam dormindo não quis incomodar e fui embora visitar o forte fazia tempo que não passava La,lugar maravilhoso fiquei olhando aquele mar imenso só imaginando passar um dia por ali em direção ao cabo horn rsrsrs.Depois passeando por ali, fui mostrar para minha esposa o lugar que sempre pescava quando olho para a direta vi um veleiro igual ao nosso falei para a minha esposa olha um veleiro ali vamos ver,quando cheguei próximo por surpresa era o Hoje,estava la bem quietinho dormindo em um lugar maravilhoso sozinho sem ninguém para incomodar com marolas rsrsr. Parabéns pelo barco muito bonito. Quando eu for visitar a minha mãe irei visitar o hoje de novo.
Que bela historia do Argentino, eu e minha esposa daqui uns dez anos iremos aposentar e sair pela costa Brasileira, quem sabe dar um pulinho ali na África.
Quanta informação bacana Nilson!
ExcluirProvavelmente a hora que você passou aqui na pousada, sendo o mês de Janeiro, estávamos, eu e Luciane, aprontando o café da manhã para nossos hóspedes, começamos as 5h30min e servimos as 8. Realmente o Forte Marechal Luz, um dos pontos turísticos mais importantes da nossa região é lindo, tem um museu muito interessante.
Quanto à ideia de dobrar o Cabo Horn, ela habita a mente de muitos de nós velejadores. É uma coisa possível, questão apenas de preparo e os equipamentos adequados.
Bonita sua descrição a respeito do seu encontro com o Hoje! e obrigado pelo elogio!
Na próxima visita à sua mãe a gente conversa com calma, na temporada não pensamos em outra coisa senão atender nossos hóspedes, e amamos fazer isso! Nessa época nosso barquinho fica em segundo plano, mas é por um nobre motivo.
Que bacana saber que pensam em aposentar e curtir a vida no veleiro pela costa brasileira. Façam com calma que tudo dará certo, que bons ventos lhe auxiliem nessa faina!
Abraço e obrigado pelo comentário.
É para mandar um abraço do veleiro HArmony de Portugal, eu e a minha mulher adramos ler o teu Blog.
ResponderExcluirRui e Lena
Abraço
Grandes Rui e Lena, já havia conhecido um pouco da vossa história através do blog. Que beleza tê-los por aqui, que alegria!
ExcluirMuito obrigado pelo elogio e ficamos felizes em saber que gostam de nosso blog.
Bonito o nome de vosso barco.
Saibam que quando quiserem descer a costa brasileira haverá um porto seguro aqui na Baía Babitonga, mais especificamente no Capri, local onde nosso barquinho mora.
Abraços da nossa família à tua, bons ventos desde o sul do Brasil!
Conversei rapidamente com ele durante minhas férias em fevereiro deste ano no saco do Mamanguá, Parati RJ quando estava com amigos velejando por lá. Me surpreendeu a sua coragem visto o tamanho do barco, apenas 21 pés. Que exemplo de coragem e determinação.
ResponderExcluirAbraços
Cristóvão Freitas - Veleiro Bons Ventos I - Poa RS
Grande Cristóvão, que beleza tê-lo por aqui! Obrigado pela presença, comentário e por acrescentar a sua experiência ao blog.
ExcluirAbraços e bons ventos desde a baía Babitonga!
22 de maio de 2015: Grande história!!! Mas por onde anda nosso amigo argentino????
ResponderExcluirSeja bem vindo Jaime! Obrigado pela sua presença e comentário.
ExcluirÉ com um pouco de pesar que fiquei sabendo, por aqui mesmo, pelo nosso amigo Luciano Guerra do falecimento do grande e intrépido velejador Victor Otaño. Não tanto pesar pois tivemos o privilégio de o conhecer, o que é motivo de alegria. Infeliz ou felizmente a vida é finita e precisamos aproveitá-la da melhor forma, e conhecer uma pessoa dessa magnitude é motivo de satisfação. Uma grande pessoa também pela sua humildade, que nada mais é que o reconhecimento e consciência de seu tamanho perante o mundo.
Recebemos um belíssimo e-mail da irmã do Victor também nos avisando do ocorrido, dizendo ter se emocionado quando ao procurar por notícias de seu irmão, viu em nosso Blog fotos e relatos da passagem dele por aqui.
Grande abraço e bons ventos desde a baía Babitonga!