terça-feira, 23 de julho de 2013

Fundear e Suspender

Tão importante quanto dar seguimento ao barco através das velas, é saber fundear. Para cessar o movimento do barco é necessário fundeá-lo. Abafar ou recolher as velas e, com pouco seguimento, “jogar o ferro”, ou seja, soltar âncora; fundear. É um procedimento básico e recurso primordial à segurança, por isso deve ser treinado. A melhor coisa a se fazer quando estivermos à matroca [ao sabor dos ventos e correntes] em local onde corremos risco de um albaroamento [choque com outra embarcação] é jogar o ferro. A regra de segurança diz:

·        Soltar no mínimo três [3] vezes de amarra em relação a profundidade do fundeadouro, no caso de permanecermos pouco tempo;

·      Numa eventual pernoite, serão necessários no mínimo cinco [5] vezes a quantidade em metros de amarra em relação a profundidade.

·        Na presença de corrente de maré ou ventos fortes, são soltos sete [7] vezes a profundidade:


Antes do fundeio, verificar a carta náutica e a Tábua das Marés [enchente ou vazante].

Para reforçar o “unhar” da âncora no fundo damos “máquinas atrás devagar”. Verificar então se a embarcação não está à garra, ou seja, com a âncora livre, sem função. Abaixo uma ilustração de uma âncora tipo Danforth “unhando” o fundo:


Para facilitar a localização da âncora e também como segundo recurso para suspendê-la, evitando a sua perda, usamos outro cabo denominado arinque, que é amarrado e sinalizado através de uma bóia de arinque. Um pouco maior que a profundidade em metros, deve ser o comprimento do arinque [1 + 1/3]. Num fundeadouro com outros barcos auxilia muito na segurança por fazer visualizar onde está o seu ferro e também por onde passa sua amarra, evitando outro barco [principalmente veleiros] enroscar ou cortar [hélice], causando um perrengue ou mesmo acidente.


         Para suspender o ferro, puxamos a amarra até ela ficar à pique, ou seja, em sua menor estenção, dessa forma a âncora perde sua função, desprendendo-se do fundo:



         Devemos evitar fundos de pedra, pois é praticamente inevitável a perda do ferro. Caso isso ocorra, devemos “picotear” [cortar] a amarra para nos safarmos.

       Um bom fundeadouro deve ter:

·         Profundidade adequada a nossa embarcação [evite o encalhe observando a menor profundidade na baixa-mar];

·                        Fundo sem grande declividade, caso contrário a embarcação “garrará”;

·           Fundo de boa tença [poder de prender a âncora]. Ex.: areia, lama, cascalho ou uma combinação deles;

·                     Ter espaço para o raio de giro mais o comprimento do barco. E ainda;

·                     Caso necessário apoio ou desembarque, que seja próximo de terra.



Fontes:

Bibliografia: Navegar é Fácil, 12º Edição, Geraldo Luiz Miranda de Barros;

Páginas para eventual consulta ou aprofundamento:



sexta-feira, 19 de julho de 2013

Deslizando sobre as águas

Nesta quarta-feira, depois de alguns dias tentando fazer o motor pegar, decidimos levar o barco de volta ao Capri para fazer os devidos reparos. Convidamos o Luciano Saraiva para a empreitada, já que sem motor exigia-se experiência na vela. Luciano, de prontidão, aceitou o desafio.

Horário combinado, estávamos todos reunidos mais uma vez no trapiche do Museu Nacional do Mar. 

Saraiva, tripulante exemplar, nos auxiliou na lavagem do convés, antes de zarpar.

Desta vez a empreita era diferente, sairíamos na vela e tínhamos apenas uma bafagem de oeste [terral] mais a corrente de maré [vazante], ambos na mesma direção, leste. Estes elementos naturais acabaram nos levando ao porto que fica do lado direito do Museu [em terra]. Sem vento o barco acabou derivando em direção ao porto [sim, de novo! Acompanhe aqui]. Jogamos âncora e fundeamos. Conferimos nossa posição, para ter certeza que não garraríamos, e acompanhamos tendo como referência um poste que ficava a 270º relativos, ou seja, no través de bombordo. A âncora bruce cumpriu perfeitamente seu papel e estávamos seguros, um choque com o berço de atracação do porto não era mais preocupação. A partir daí sentimos na pele o que a palavra paciência significa. Como estava previsto, a partir do meio-dia, ventos do quadrante nordeste começariam a entrar, só que com gentileza, uns 3 nós. Esses ventos gentis, que poderiam nos tirar daquela situação desconfortável não eram sentidos, pois a parede de contêineres que estava no berço do porto nos abrigava desse vento tão pretendido. Saraiva, já descrente da nossa saída contatou o Bruno, que trabalha na empresa de praticagem, e explicou a situação. Bruno, muito solícito e compreensível, nos auxiliou no reboque da lateral do porto até o meio da baía. Quero deixar nosso agradecimento, mais uma vez, ao pessoal da praticagem que age de forma sempre imprescindível, muito mais como missão do que por obrigação.

         Estávamos no meio do canal, e da baía, agora os elementos nos empurrariam, naturalmente, para nosso destino, o Capri.


Saraiva sempre atento ao perfeito trimar das velas

Os 3 nós iniciais aumentaram para uma boa aragem e depois ficaram entre 6 e 7 nós, vindos de nordeste [sotavento]. Com essa frequência de vento, também frequente foi nossa velocidade; média de 3,5 nós. O Hoje!  deslizava suave e bonito por cima dos “carneirinhos” formados pelo vento, sem caturrar ou bater, permanecia estável, seguindo no rumo que adotamos; nessa hora reconhecemos a qualidade marinheira dele. No contravento, recebendo o nordeste pelas bochechas de nosso querido barquinho demos quatro bordos longos e logo estaríamos no canal do Iriri, que dá acesso ao Capri. 


Saraiva, Letícia e Heloísa, essa última em sua primeira velejada.

Chegada ao nosso destino, o Capri

Ainda sem bote de apoio, contamos com a ajuda providencial do pessoal que colhe berbigão. Não bastasse o enorme favor, ainda nos presentearam com a iguaria. Nosso muito obrigado!

No outro dia, cedo, uma bruma tomou conta de São Chico, o Hoje! ficou assim...

Despedimo-nos aqui. Obrigado ao nosso amigo velejador Luciano Saraiva. Quem quiser aprender a velejar pode acessar a página dele

Até a próxima, bons ventos e velejadas para todos!

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Um mísero giclê

Ainda não saímos com o barco. Sair com velas como propulsão ainda não é compatível com nossa experiência, além do que o motor do barco é um recurso de segurança imprescindível, pois ficar a deriva é perigoso, visto que estamos do lado do porto. Já pensou um cargueiro daqueles se aproximando e uma calmaria [sem vento] e o motor sem funcionar? O jeito seria usar o remo!

         Descobrimos  que na rotação mais baixa [lenta] o motor não funciona, o giclê está entupido, segundo o Sr. Nestor me informou.  Perdi as contas de quantas vezes dei a partida, que é manual. Mantinha-se ligado na rotação alta, tão logo eu desacelerava, morria. Sr. Nestor me explicou como proceder para desentupir o carburador, caso não funcione, devo desmontá-lo e levá-lo pra ele limpar e regular.

         Amanhã tentaremos novamente, levaremos ferramentas pra uma eventual desmontagem do carburador. Esperamos que funcione, aí é só alegria.


Bons ventos!


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Uma Ínfima Chave

Descobri que o motor não está com problema. Era apenas a chave que aciona o duto de entrada da água no motor para refrigerá-lo.

No meio do trajeto entre o Capri e o Museu Nacional do Mar o vento quase desapareceu, estávamos velejando em asa de pombo numa popa rasa a uns míseros 1,5 nós. Achamos por bem ligar o motor para que nossa chegada ao destino não fosse tardia. A partida foi dada sem grandes problemas, como de praxe. Com as velas abertas e o motorzinho apenas engatado em sua aceleração mínima ganhamos, estimo, quase o triplo da velocidade. Uns vinte minutos depois notamos fumaça saindo da cabine, todos estranharam e decidi desligar imediatamente o motor.  O diagnóstico era claro, não havia arrefecimento e o motor estava esquentando. Um certo desconforto tomou conta da gente pois teríamos que fazer a chegada velejando até a poita, o que exige um pouco mais de cuidado.


Wagner teve a ótima ideia de usar o pau de Spinaker na buja, com pouco vento, isso obriga a vela a ficar estendida, evita o panejamento e aumenta a eficácia. Na foto, ele está ao lado do mastro usando o celular [!].

Estávamos novamente só dependendo das velas e do vento quase inexistente. Para nossa alegria, de repente, rajadas do quadrante nordeste começaram a entrar. Sorrimos todos empolgados. Já estávamos chegando ao destino e lembrei que tinha que avisar a Luciane para que ela fosse nos buscar. Então dei a ideia, para aproveitar aquele vento bom que entrou, da gente dar uma esticada até o outro lado da baía, na Vila da Glória. Foi só diversão, pude sentir como nosso veleirinho se comporta, é um misto de estabilidade e desempenho [guardadas as devidas proporções].  Foi o tempo da Luciane se deslocar até o Museu e conseguimos testar o barco com um vento ideal, logo estávamos no porto do Hoje!, a Luciane chegava por terra, nós pelo mar. Procedimentos de chegada, amarração do barco à poita, guardamos as velas e desembarcamos.


Contudo, uma coisa não me deixava quieto. Testamos o motor quando o barco estava no seco, na carreta de encalhe, no Capri. Sr. Nestor, mecânico do Capri Iate Clube há 30 anos verificou comigo tudo o que era necessário, inclusive o sistema de arrefecimento. Alguma coisa estava errada, mas não era o motor.

Quando saímos a motor do Capri Iate Clube, o motor morreu logo que o ligamos, então o Wagner foi dar uma olhada e achou uma chave na base do motor. Achando que essa chave era de fechar o fornecimento de combustível para o motor ele a mudou de posição, pensando que desta forma estava abrindo. Concidentemente demos partida novamente e o motor pegou. O que eu descobriria num outro dia conversando com Sr. Nestor é que aquela chave é do duto da água que arrefece o motor, só funciona quando está na posição de 90°graus, ou seja, quando ela está na posição horizontal, independente do lado, está fechada, quando está na posição vertical, está aberta. Voltei ao barco nesse final de semana e fiz o teste, a água passou normalmente pelo duto interno do motor e saía no escape junto com os gases queimados do combustível, do jeito que deve ser.

Assinalado em vermelho, acima, a ínfima chave que por falta de uma lida no manual deixou todo mundo apreensivo.

Até o próximo post, abraço grave e bons ventos!