Há um ano atrás exatamente, chegávamos
por terra de Florianópolis com o então Carioca.
A ideia era trazer o barquinho navegando mas alguns empecilhos apresentavam-se.
Ele estava parado havia dois anos sem manutenção básica. O jeito foi retirar o
mastro, colocá-lo num caminhão e encarar 200 km de rodovia com o peixe fora d’água.
Curiosa a expressão das pessoas
assistindo a cena do transporte. Um veleiro é realmente algo muito desengonçado
fora do elemento para o qual foi criado, principalmente quando é dotado de uma
quilha falsa fixa, parecendo uma barbatana de tubarão invertida. Ela só faz
sentido quando o barco veleja pois sua função é equilibrá-lo quando todos os
panos estiverem em cima. Sem essa quilha o barco, num vento mais forte, capotaria
com relativa facilidade. Veleiros com quilha falsa fixa (são a maioria) têm
sempre carretas de encalhe mais desengonçadas que os próprios. Como na vida não
podemos ter tudo é preciso aprender a conviver com os prós e contras de cada
barco.
Marquei as 6 horas da manhã com o Irã,
responsável pelo transporte, no posto de combustível da entrada de São
Francisco do Sul. Saímos com o
caminhão com destino à capital catarinense. A viagem e translado correram
tranquilamente. Irã foi o tempo todo muito atencioso e dedicado ajudando em
tudo que pôde. Seu caminhão tem uma rampa comprida para até dois carros ou um
barco de até 30 pés. Prova de sua paciência foi que quando chegamos com o barco
no Capri não sabíamos exatamente onde deixaríamos o Hoje! e ele esperou conosco a resolução
desse impasse. Recomendamos o serviço do Irã.
Antes de chegar ao Capri com nosso
barco havia conversado com Sr. Adenir, proprietário da Marina Arco-íris sobre
nossa intenção. Ele disse só haver restrições quanto ao calado quando quiséssemos
recoloca-lo n’água. Quando chegamos ele nos viu e o barco e atônito fez uma
expressão facial como: “E não é que vocês vieram mesmo?!” Tratou logo de nos
apresentar ao Sr. Nestor, mecânico antigo do Capri, pedindo a ele para arrumar
um lugarzinho para o Hoje! Nestor,
um cara batuta, apontou o lugar e nos mostrou o barco do Fabrício, explicando
tratar-se de caso análogo. Ficamos felizes pois, além de um barco, teríamos uma
turma para compartilhar experiências.
A partir de então nossa rotina seria
ajustar alguns detalhes para o relançamento do Hoje! n’água, que aconteceria 3 meses
depois. Enquanto isso a convivência com o pessoal do Capri foi muito agradável
e produtiva. Conhecemos depois o Cesar e também o Marcelo, esse nos convidando
para velejar nos seu Talhamar por
puro coleguismo querendo nos mostrar as belezas do mundo da Vela e aquele dando
valiosas contribuições e pondo a mão na
massa, literalmente, para ensinar-me vários segredos e ensinamentos sobre
mecânica e navegação, sendo sua ajuda, como já citei por aqui outras vezes;
inestimável.
Foi um ano de um divertido e profundo
aprendizado estreitando nossos laços familiares e da nossa família com o Mar.
Conhecemos pessoas singulares que de outra forma não conheceríamos. Quando
assumimos a responsabilidade de adotar o Hoje!
havíamos nos comprometido em conhecer e desvendar os segredos e mistérios desse
elemento que habita nossos sonhos e emoções mais profundos.
Que os mares lhe sejam gentis e os
ventos constantes, nos encontramos na próxima ancoragem. São nossos votos nesse
primeiro ano de vida náutica da Família Ville Floriani!