Primeiramente quero salientar que
fui, a maior parte da minha vida, um veranista. Aproveitava a praia de maneira
insípida quando meu avô tinha uma casa no litoral paranaense, Guaratuba.
Preconceito e ignorância não me deixavam enxergar o imenso potencial cultural e
natural que o litoral guarda. Minha abordagem, assim como a da grande maioria
das pessoas quando invadem as praias, era completamente superficial.
Quem mora no litoral pode vivenciar um estilo
de vida muito peculiar, saudável e tranquilo e, mesmo quem só vem a passeio,
pode, se souber o caminho, mergulhar de cabeça nessa cultura, mas, para isso, é
preciso se permitir.
Desenvolvi uma tabela, com ajuda da Luciane,
sobre as diferenças abissais entre os dois perfis que mais encontramos no
litoral de nosso país durante o verão, mais precisamente, na eminência da
virada do ano. É claro que percentualmente, os veranistas são imensamente mais
numerosos, mas, o ideal seria o contrário, repare por quê:
Interessam-se pela cultura, costumes, história, gastronomia,
etc. do lugar.
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Não
se interessam pelos aspectos peculiares da região por não enxergarem o
potencial cultural e, consequentemente, não respeitam tais aspectos.
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Visitam
locais históricos, Museus, Igrejas e lugares que caracterizam o destino.
Apreciam a arquitetura típica e observam detalhes dos lugares por onde
passam.
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Acreditam
que o único atrativo do lugar é a praia (cheia) e que o tempo deve estar sempre
“perfeito”. Só interessa o banho de mar.
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Como
se hospedam em Hotéis e Pousadas, não cozinham em casa, conhecendo os sabores
da região e incrementando a economia local.
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Como
têm imóvel ou alugam um, consomem a mesma comida de onde vieram e muitas
vezes a trazem de lá. A única exceção é que, eventualmente, consomem peixe
fresco.
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Economizam
água pois entendem que assim poderão ter uma estadia de melhor qualidade. Utilizam
piscinas que não requerem reposição d’água, só seu tratamento.
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Como
estão em “casa” trazem ou compram todo tipo de quinquilharia. Um exemplo
pernicioso é a piscina infantil, que consome enorme quantidade d’água.
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Em
Hotéis e Pousadas as acomodações tem limite de pessoas, equalizando o uso dos
recursos. Nunca há excedente de pessoas por leito.
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Quem
tem imóvel sabe que “parentes” que você nem sabia que tinha aparecem na hora
que a coisa já está caótica e, para piorar, ninguém tem coragem de mandá-los
embora, superlotando praticamente todos os imóveis.
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Turistas
sempre têm bastante dinheiro reservado para usufruir do destino; só exigem
qualidade e prestatividade nos serviços.
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Veranistas
chegam com um orçamento muito reduzido e economizam em tudo que podem, acabam
sobrecarregando os recursos do local causando um caos.
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Como
turistas, respeitam os caiçaras por entenderem que a maioria trabalha para
que eles possam usufruir. Sentem prazer no sorriso e acolhimento das pessoas
que estão ali para atende-los.
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Não
respeitam os locais, ocasionando algazarra e baderna sem ter a menor noção de
horário e que existem pessoas que moram e trabalham ao seu lado, muitas vezes
para servi-las no outro dia no mercadinho da esquina.
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Estão
sempre em busca de experiências que caracterizam o local e buscam por
produtos feitos na região, agregando valor a sua vivência.
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Consomem
as mesmas marcas de praxe pois não estão abertos à novas experiências.
Preferem a quantidade à qualidade e esperam pagar pouco, o que, na prática, é
ilusório.
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Interessam-se
pela natureza local e investem tempo e recursos para poder ter contato com
ela.
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Ignoram
completamente a natureza local causando grande impacto ambiental sem
demonstrar remorso.
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Querem
vivenciar profundamente o destino.
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São
superficiais em sua abordagem.
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Sob essa ótica fica nítida a diferença e que
se abra a possiblidade de uma mudança de cultura, pois não é possível deixar de
lado aspectos culturais peculiares à cada região, renegando-os a segundo plano,
sendo que na maioria das vezes foram primordiais à aparição da nossa
civilização, pois nosso país foi descoberto e colonizado pelo litoral.
Abraços da nossa família desde a Ilha
Encantada!