quarta-feira, 18 de junho de 2014

A preparação em São Luís


         Havia chegado as 2 horas da manhã em São Luís. No avião fiz amizade com um senhor bacana, dono de uma loja de suprimentos para restaurantes em Itajaí, irmão de um político famoso de Santa Catarina, conhecedor de São Luís e casado com uma maranhense. Pousei na capital sentindo-me em casa. Dividi o táxi com ele, pois o mesmo iria adiante do hotel onde eu pernoitaria.

         No check in do hotel avisei da minha chegada ao Fernando pelo telefone.  Muito cortês, insistiu que eu acordasse um pouco mais tarde, fizesse um bom desjejum e então ele passaria para apanhar-me para mostrar o barco e apresentar-me aos envolvidos. Pude descansar da viagem e, devido a ansiedade, dormi o suficiente até perceber que os primeiros raios solares entravam tímidos pelas brechas das cortinas. Do corredor pude ter uma primeira impressão de São Luís e a visão da baía de São Marcos, era o que a janela permitia com alguns prédios esparsos atrapalhando a paisagem. O mar estava ali, desde sempre, esse era o foco. Tomei um café da manhã caprichado e esperei no saguão. Um rapaz que trabalha no estaleiro apanhou-me e nos encaminhamos à Ponta D’areia, bairro onde localiza-se a AVEN (Associação de Vela e Esportes Náuticos do Maranhão). Lá pude sentir a atmosfera do lugar e logo “de cara” observei vários catamarãs devidamente atracados. Difícil encontrar, acredito, na américa do sul, lugar como São Luís nesse sentido, praticamente todos os veleiros são catamarãs.

         Pude conhecer Fernando pessoalmente, coisa que até o momento não havia ocorrido. No meio de toda a correria e bagunça nos cumprimentamos, apresentou-me a todos presentes e foi logo esmiuçando tudo a respeito do barco. Demorei um pouco até me situar. A primeira impressão foi de estupefação dado o tamanho do barco, através das fotos não se tem ideia, é um enorme catamarã de cruzeiro, com 4 espaçosas cabines, das quais, 2 suítes, feito para 8 ou mais pessoas pernoitarem com conforto.

         Sexta-feira, 30 de maio. A previsão de partida era sábado, dia 31, à noite. A bagunça a bordo não estimulava muito e fazia crer nossa saída tardaria mais alguns dias. Muitas peças importantes como moitões, catracas, stoppers, etc., indispensáveis num veleiro, jaziam em caixas de papelão e por onde houvesse um lugar passível de serem reconhecidas. Fernando, muito confiante, encaminhava cada qual à uma atividade na ânsia de por ordem ao caos. Queria cumprir o prazo e para mantê-lo punha todos os envolvidos a trabalho. Cada qual ajudou no que pôde e, aos poucos, a coisa foi andando a contento. O clima era de muito otimismo e o pessoal sentia que era o momento de dar um passo adiante. A sinergia foi tomando forma e o que parecia o caos, gradativamente dava indícios de uma ordem. Todos trabalhando num objetivo só: preparar o Guina para a descida da costa em direção à Paraty. Os personagens dessa trama vão apresentando-se e mostrando-se muito entusiasmados, ninguém parecia trabalhar, estávamos envolvidos numa atividade lúdica. Muitas brincadeiras para que enturmássemos, nessa fase, três pessoas chave contribuiriam para os toques finais indispensáveis à zarpada: Nelson; o eletricista, Cebola; o faz tudo, e Júnior; o instalador. Nelson, um cara muito concentrado, já trabalhou embarcado, profissional gabaritado da elétrica/eletrônica náutica passou um dia inteiro instalando tudo quanto fosse possível e deixou o Fernando muito feliz e mais relaxado quando da conclusão de seu serviço. O Cebola trabalhava no estaleiro, até limpou o fundo do barco para aprontá-lo para o grande dia. Júnior, dono de um senso de humor ímpar, é daqueles caras que quando sentam no roda de bar, dá um espetáculo à parte na contação de seus causos ocasionando dores abdominais em seus ouvintes. Habilidoso na instalação de diversos itens, foi responsável pelas peças inerentes ao funcionamento e regulagens do aparelho do velame. O clima era tão bom que Fernando reiterava convites a eles para nos acompanhar até Fortaleza, primeira parada.

         Na hora do almoço pude conhecer as singelas instalações do refeitório da AVEN e Dona Roxa, como carinhosamente é apelidada, fez um saboroso almoço, e assim, pude experimentar um pouco do tempero e paladar ludovicense. No outro dia ela serviria camarões enormes envoltos em delicioso molho de sua autoria. Solícita, sempre nos servia de alguma coisa feita com esmero. Confidenciou-me, orgulhosa, que era a mãe de Fernando em São Luís; estávamos em casa, sentimo-nos como filhos.

         O trabalho continua e todo esse acolhimento teria um fim, infelizmente, mas, como um ciclo que termina, encaminhávamos para a conclusão de todos os ajustes, pois Fernando estipulava: a primeira velejada seria amanhã de manhã, com a maré apropriada!

         Acompanhe o desenrolar dessa bonita história na próxima postagem.


         Grande abraço e bons ventos!


Capitão Glauco determinava: “Enquanto tudo não estiver pronto, não zarparemos.”


MARINA AVEN, Associação de Vela e Esportes Náuticos do Maranhão


AQUI se aprende a navegar


Glauco prepara a cadeirinha para Nelson


Nelson instala o piloto de vento


A vinte metros do convés


Júnior, o contador de causos


Fernando, Nelson, Dona Roxa, Cebola e eu


5 comentários:

  1. Muitas emoções nénão Rico!! Também acompanhei pelo Forum da Náutica a luta 'Hercúlea' do Previdi para ver seu sonho concretizado. Eu sou doido prá conhecer o Maranhão e um dia irei velejar por lá!! Fiquei sem meu notebook quase um mês e vou ler os posts com calma.
    Abraço!!

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    1. Grandes Comandante Stark e Almiranta Maria de Los Angeles,

      Nem fale, muita informação, cultura e experiências náuticas. Ficamos muito felizes de fazer parte dessa história que desenrolar-se-á em Paraty. Mês que vem, estamos planejando uma visita à família Previdi por lá e gostaríamos de passar no Saco da Ribeira pra encontrar com vocês. Ah! No começo do próximo mês o Juca vem com a família pra cá, hospedar-se-ão conosco. É isso aí, o mês de julho, pelo jeito, será de belíssimos encontros.

      Abraços e bons ventos desde a Babitonga!

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    2. Bom, Rico, nem preciso dizer: Ubatuba é passagem e parada obrigatória!! Lembrando que agora o Gaipava fica na Praia do Itaguá, apenas algumas quadras de casa. Será uma satisfação recebê-los por aqui.

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  2. Bom dia aqui de Portugal e um grande abraço :)

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    1. Bom dia do sul do Brasil grandes colegas e irmãos portugueses! Obrigados pelo comentário.

      Sem querer causar-lhes ansiedade, quando é que atravessarão o Atlântico e conhecerão nosso belíssimo litoral? Acompanhem as próximas postagens que publicarei belos registros que captei na costa brasileira.

      Ainda conheceremos Portugal, e também será com o veleiro da nossa família, pois é um sonho que alimentamos.

      Abraços da nossa família à sua desde a baía Babitonga!

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