sexta-feira, 13 de junho de 2014

Um banho de cultura


         Com calma, estou organizando mentalmente a grande experiência que foi conhecer um pouco do nordeste brasileiro começando por São Luís, a capital Maranhense.  Estive presencialmente em três capitais, por muito pouco tempo mas, acredito, foi o suficiente para poder sentir como são as coisas por lá.

         O ponto forte, com certeza, são as pessoas que lhe acolhem natural e calorosamente.

         São Luís foi uma experiência singular, principalmente porque pude conhecer várias pessoas que estavam envolvidas com o Guina, o belo catamarã que levaríamos. Não pude conhecer a capital com calma, pois não estava a turismo, mas pude ir várias vezes ao centro da cidade atrás de peças para o barco e tive uma boa noção. É um lugar de incrível contraste. A parte antiga da cidade por vezes choca aparentando certa decadência, o que, é o oposto diametral dos novos e ricos bairros que há pouco tempo demonstram a ostentação de uma nova classe social em ascensão. A parte antiga, por vezes, é suja e observamos a presença de muitas pessoas à margem da sociedade. Os novos bairros ostentam luxuosos condomínios oferecidos à essa nova realidade criada para poucos. São dois mundos que se conectam através de uma delicada estrutura. Isso não é exclusividade de São Luís, nesse aspecto, é inegável: estamos no Brasil. Coisa muito comum em nosso país é um certo cinismo dos ricos em relação aos menos afortunados. É preciso registrar: não senti insegurança em nenhum momento e em nenhum lugar da capital maranhense, em todos os lugares havia uma atmosfera amistosa e receptiva; senti-me em casa. Sem sombra de dúvida é um lugar que merece uma parada, até se você vem de barco, pois a cidade guarda muita história e cultura agregadas, o povo é muito receptivo e acolhedor, isso, por si só, já é um grandíssimo atrativo. Se você vem de barco, com certeza será bem recebido pelo pessoal da AVEN, pois é uma confraria de colegas da Vela. Pudemos dar muitas risadas com as histórias do pessoal dos catamarãs.

         Uma das coisas que mais impressiona em São Luís, mesmo para quem não tem muita relação com o mar, é a incrível variação de marés, que pode ter a amplitude de até 8 metros. Esse visual, hora seco, hora molhado acaba sendo um protagonista visual da parte central e adjacências. Adicionado a isso temos as belas costeiras, barcos típicos e tradicionais que fazem parte desse cenário poético e único pintado com as cores que os navegantes desses barcos determinam de acordo com as velas que utilizam. Essa poesia visual é incrivelmente hipnotizante. Os barcos estão ali diante de nós, são uma realidade, porém, a impressão é de que estamos vivendo um tempo recuado, e essa impressão só é dissipada quando observamos elementos do mundo contemporâneo contracenando com eles. Foi impactante ver essas embarcações navegando pois no sul do país não existem mais essas manifestações típicas à vela. Os últimos barcos tradicionais que utilizavam as velas em Santa Catarina foram as baleeiras e com a proibição da caça, aos poucos, eles perderam sua utilidade e, infelizmente, viraram peças de museu. Fui informado pelos orgulhosos maranhenses que as costeiras são utilizadas para vários fins; carga, passageiros e pesca. Um cenário como esse, realidade em São Luís, hoje é apenas imaginado através de ilustrações da baía Babitonga de cem anos atrás. Com um novo olhar sobre as coisas, não estamos adiantados, pois utilizar motores a combustão de combustível fóssil não demonstra evolução. Os ventos são uma energia perpétua e infinitamente renovável. Sorte daqueles que mantiveram determinadas tradições, que não justificam modismos e que através dos séculos moldaram essas embarcações à perfeição.

         Já dediquei uma postagem ao Museu Nacional do Mar, que, de alguma forma, acendeu a centelha de nossa família para as coisas do mar. Ver aqueles barcos no museu, objetos inertes, são uma coisa. Presenciar essas embarcações no mar sendo manejadas por experientes marinheiros, herdeiros de uma tradição cultural, é com certeza uma experiência magnífica.

         Vou deixá-lo com as belas imagens que tive o privilégio de registrar quando da passagem por São Luís, espero que goste.


         Grande abraço e bons ventos!






8 comentários:

  1. que maravilha, Rico ! Gratidão por seu post !

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  2. Muito legal Rico!
    Passamos duas semanas com o Cascalho atracado na AVEN e foi surreal! Seis horas na água e seis horas na lama! Fomos muito bem recebidos e fizemos grandes amizades.
    Abraços

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    1. Não sabia que haviam tido essa experiência, ainda não cheguei nessa parte lá no blog do Cascalho, estou o lendo de cabo a rabo.

      Realmente, uma palavra que pode ser usada pra sintetizar a estada em São Luís, e sem exagero, é: surreal! Que beleza tê-los aqui por esse espaço virtual. Muito obrigado pelos comentários e audiência,

      Abraços da nossa família à sua desde a Babitonga.

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  3. Muito legal Rico!
    Belas imagens,Parabéns

    Abç
    Nilson

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    1. Muito obrigado pelo elogio Nilson, obrigados pelos comentários e audiência assíduos.

      Abraços e bons ventos!

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  4. Rico, obrigado pelo post. São Luís é muito bonita e realmente as marés impressionam bastante. Estive por lá no início da década de 80. Meu irmão morou em S. Luís uns dois ou três anos quando participou da implantação da Alcoa. Adoro os barcos tradicionais da nossa costa e este do filme, chamam costeira? é uma beleza e navega maravilhosamente. Acho que precisaríamos fazer um movimento de retorno ao uso destes barcos, agora de modo esportivo, transformando-os em iates para fins de semana. Revigoraria a indústria naval artesanal, até porque os preços destes barcos são muito convidativos frente aos sofisticados barcos modernos. Prefiro muito mais estes e, apesar de mais difíceis de conduzir, pegando o jeito é só prazer. Obrigado. Abraços.

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    1. Olá Ronaldo, tudo em ordem?

      Perdoe-me pelo atraso na resposta, estamos voltando à ativa e agora é que encontrei seu comentário.

      Você me agradece pela postagem e eu retorno agradecendo pela sua audiência: razão pela qual escrevo. Bacana compartilhar de sua experiência em São Luís. O pessoal mais erudito chama esses barcos de Cutter do Maranhão, mas os locais as chamam de "costeiras".

      Quando os barcos a vapor estavam prestes a tomar o lugar dos veleiros, o príncipe inglês da época resolveu fazer uma corrida (regata) com alguns deles que já estavam um pouco encostados. Foi assim que nasceu o Iatismo. Essa sua ideia lembra um pouco isso, caso contrário estaríamos relegando ao ostracismo talvez séculos de história e tradição. Quiçá se nossos jovens se interessassem por carpintaria poderíamos oferecer a eles cursos para que reformassem e também conhecessem os processos de construção desses barcos repassando assim a tradição com uma ou outra técnica mais atual, porém com o espírito intacto. No estado americano do Maine há esse tipo de cultura naval e escolas que ensinam as crianças em colônias de férias e a cultura ancestral vai passando através das gerações, além de unir as famílias em torno de um hobby maravilhoso.

      Como você menciona, dessa forma, a própria condução dos barcos, que aparentemente exige um pouco mais de conhecimento, seria sanada pelo conhecimento que aprendêssemos no restauro e manutenção deles.

      Talvez esteja aí um trabalho necessário as gerações vindouras e que, com toda certeza, vale a pena ser feito!

      Agradeço seu comentário o convidando a ficar ligado que dentro em breve traremos novidades.

      Um abraço desde a Babitonga!

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