quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

1ª Velejada em Família!


            Tempo estável, vento leste com intensidade perfeita; 12 a 15 nós. O mar, devido a estabilidade do vento lá fora (mar aberto), parecia um tapete. Tudo conspirava, ao que, de fato, foi uma bela velejada. Esse cenário perfeito nos convidava, digo, impelia a navegar. A natureza dá as cartas, cabe a nós entender e aceitar as regras de seu jogo deslumbrante.
            Tão logo terminamos a manutenção do motor do Hoje! não havia mais nada que nos prendesse em terra. A partir de agora podemos navegar com segurança, pois todos os requisitos básicos para uma saída sem perrengues foram devidamente supridos, restando apenas ajustes finos que realizaremos aos poucos, aqui e acolá.
            Figura chave em nossa jornada pelo mar, Cesar, nos auxiliou em nossa primeira velejada em família. O barco chegara ao mês de março e desde então fomos efetuando acertos para relançá-lo. Nosso barquinho ficava observando o mar de cima da carreta de encalhe no pátio do ICSC (Iate Clube Veleiros da Ilha). Que angústia devia ser pra ele observar o elemento para o qual foi projetado, ali, bem diante de sua proa, maré sobe e desce, ele no seco. Bem cuidado, limpo, mas triste; sem poder navegar.
            A Luciane havia velejado quando o Christian Franzen do Armazém Naval e o antigo dono do barco, André, nos levaram pela baía norte de Florianópolis para nos mostrar como o barquinho se comportava. Desde então não tivemos mais a oportunidade de velejarmos juntos, em família. Com o barco pronto, era hora de reunir a família e celebrar a vida.
            Como de praxe utilizamos nosso motorzinho para safarmos do cais, e, antes do que imaginei, Cesar o desligou. Barco aproado ao vento, iniciam-se as manobras. As velas inflam e tomam forma. O vento protagoniza, sentimos então aquela paz característica, que só um barco a vela nos causa.










            O Victor choramingou um pouquinho depois que exigimos que vestisse o colete salva-vidas; medida preventiva. A Lelê também desfrutou da condução do barco, adora velejar. Os dois já fizeram aulas em Optimists, isso ajudou na compreensão de como a coisa funciona e acendeu a centelha da paixão pela Vela. Vivem perguntando quando vamos velejar novamente.

            Cesar, muito paciencioso, aguentou a trupe e até meditou na plataforma de popa demonstrando sua inquebrantável calma.

             Na volta, través folgado, dessa vez amuras a boreste, rumamos costeando a praia do Forte, Farol do Sumidouro e finalmente praia do Capri, em direção ao nosso canal do Iriri.

            Dentro do canal com a maré vazando contra e o vento “na cara”, mas com o espírito de velejadores, chegamos na vela, fazendo vários bordos, em zigue-zague até nosso porto. Um pouco penoso, porém emocionante. Para velejador, usar motor é heresia, só em casos extremos e necessários, afinal o barco não foi projetado para isso. Chegamos à vela, “esquecemos” de ligar o motor!


            E, para fechar com chave d’ouro, ainda encontramos com o Silvio no desembarque. Ele, como sempre, tranquilo, final de tarde, havia voltado de seu trabalho; pesca de camarão. Silvio é nosso vizinho de cais, nos contou que tem casa no bairro do Paulas, refúgio tradicional dos pescadores daqui, e prefere morar em seu barco, é seu estilo de vida. Tão logo atracamos, o cumprimentei e fui logo perguntando: “Tem camarão Silvio?” Resposta positiva, arrematamos os últimos três quilos. Veio nos trazer o pedido no seu caíque de apoio e nos fez uma surpresa devolvendo uma de nossas defensas que achávamos ter perdido. Gratidão profunda a essas pessoas que sem obrigação nenhuma zelam por nossas coisas.


            Com mais esse capítulo da nossa história devidamente documentado, nos despedimos com alegria e gratidão profundas desejando um Feliz Natal. Nos encontramos na próxima ancoragem, Bons Ventos!


domingo, 8 de dezembro de 2013

Problemas versus Soluções - Parte II - Bomba Elétrica

A partir da década de 80, no Brasil, devido ao Pró-Álcool, toda gasolina comercializada por aqui foi acrescida de uma porcentagem de álcool, pois este, subsidiado pelo governo, é também mais fácil de obter e é abundante. A gasolina aqui, nunca mais seria a mesma.

            Nosso motorzinho, um Volvo Penta MB2a/50s, fabricado uma década antes, feito para o mercado externo, não foi concebido para receber a gasolina brasileira, acrescida de álcool. O álcool, quando utilizado nesses motores, causa corrosão nas bombas de combustível, dutos de admissão e escape e carburadores. Quem já teve um carro a álcool sabe que tem que trocar o escapamento com mais frequência.

            Foi justamente essa a razão do desgaste da bomba de combustível, originalmente mecânica. Seus micro pistões estavam completamente desgastados. Desmontada a bomba constatamos ser impossível sua recuperação. Fiz então uma varredura em vários distribuidores de peças, inclusive na própria Volvo. As respostas negativas nos obrigaram a adotar outro caminho.

            Cesar, sempre engenhoso, propôs uma bomba elétrica com uma pequena pressão de saída, em torno de 0,3 a 0,5 bar, apropriada à pequena necessidade do motor. Acatei a sugestão e fiz a encomenda.


            Negociação e entrega ótimas, iniciamos a instalação, feita com precisão, com a inestimável ajuda do Cesar.

            Instalamos também uma chave liga/desliga para a bomba, que dá controle sobre seu funcionamento, evitando um hipotético alagamento de gasolina no poceto, medida essa, meramente preventiva.


1. Bomba elétrica instalada,  2. Chave liga/desliga

            A necessidade de combustível fóssil é incrivelmente baixa, notamos que na lenta o motorzinho pode ficar uns 15 minutos funcionando sem alimentação, só “com o cheiro”. Ainda não pude calcular a autonomia do tanque de 25 litros, mas é evidente que beber não é definitivamente a sua praia. Da última experiência da Velejada Noturna também constatei que basta usá-lo em um quarto da aceleração para chegar onde se quer, quando se precisa de um auxiliar.

            As modificações que resultaram em melhorias substanciais e até vitais, não param por aqui, acompanhe a próxima postagem com outras medidas que adotamos para a recuperação desse simpático motorzinho.


            Abraços desde a ilha encantada!


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Poesia para Lu




Quero me ver avesso àquele ar da montanha, seco e frio
Quero me desfazer desfacelando-se, retocando o toque
Que me dá água na boca servindo-me de caviar.

Quero sentir esse gosto de água salgada na boca
Desfilar afilado ao vento sobre essas águas
Descobrir o que estava guardado dentro de mim
Leva-me através do teu tato delicado de fino trato.

Faz-me dançar por entre os desatinos da alma crua
Faz-me ceder ao paladar doce da cama nua
Dou-me-te por inteiro, quero cair na tua.

Entrevejo nos teus olhos olhares atentos e novos
Coisa tua tipicamente caiçara, despida de ego
Sou tão jovem com esses passos largos, ora cambaleantes
Sinto-me nas nuvens, brisa úmida que toca a face
Face a face com o outro lado, o eterno, o sagrado.






segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Um mísero parafuso!

“Deus está nos detalhes” Ludwig Mies van der Rohe

Quando da última navegada, registrada aqui pela postagem Velejada Noturna, o motor, falhou quando estávamos no meio do trajeto de retorno. Desde então, tentei fazê-lo funcionar sem sucesso. Com a presença sempre exata e imprescindível, Cesar matou a charada.

Iniciamos os procedimentos no motor para dar a partida. Tudo aparentemente certo, notamos que a faísca, função da vela, não estava sendo acionada. Tentei girá-lo várias vezes e Cesar notou que não havia explosão dentro da câmara de combustão. Descobriu isso, com o carburador desmontado, apenas jogando desengripante diretamente nos dutos de admissão e dando a partida. Esse é um teste que fazemos pra saber se a explosão está ocorrendo. Esses tubos de spray têm um gás explosivo, responsável pela saída do líquido, logo, se aplicarmos dentro da câmara e acionarmos a partida, ele explodirá, como um combustível. A explosão, depois de girar o motor, não ocorria. Cesar então me pediu para parar. Precisávamos analisar. Fez uma inspeção visual geral e constatou a bobina, que fornece a energia elétrica necessária ao funcionamento das velas, fora de seu lugar. Tinha caído. Rapidamente, reinstalou-a. Explicou-me que a bobina deve, obrigatoriamente, estar fixada, ou ligada, ao bloco do motor. O motivo é simples, a bobina funciona somente com um fio (geralmente vermelho) positivo para ligá-la, o negativo é feito através de um terra, simplesmente encostando a parte metálica da bobina com o motor, isso se faz através de um parafuso que a mantém presa ao bloco do motor. Quando estávamos voltando, da última vez, a vibração do motor, naturalmente, afrouxou o parafuso que prende a bobina e ela caiu. Cesar ainda me explicou que ela pode até ficar fora de seu lugar, mas então é preciso ligar um fio dela até a parte metálica do motor, um terra que tem função do negativo. 



Números 4 e 8: A bobina e sua instalação

Note ainda, através do desenho, que a bobina é fixada ao bloco através de dois parafusos. In loco, só existe o parafuso de cima, só descobrimos a existência do parafuso de baixo observando o manual do motor. Isso explica também o afrouxamento e consequente queda; com dois parafusos fazendo a fixação (como no original) será difícil, quem sabe impossível, acontecer da bobina cair novamente desativando o sistema elétrico das velas.


            Próxima pequena tarefa é encontrar um parafuso adequado para fixar a parte de baixo da bobina, pois esse parafuso era inexistente.

            Com essa nova lição aprendida finalizo a postagem agradecendo Cesar pela aula (prática!) de elétrica. Até a próxima!