sábado, 26 de abril de 2014

Heavy Metal na Barra!


         A baía Babitonga é abrigada do vento sul, quando ele sopra ela parece uma lagoa, fica uma delícia.

Ontem saímos para mais uma velejada em família com a presença do decano Cesar. A ideia era ir até a ilha da Paz, porém, o friozinho matinal e o tempo fechado impediu que a tripulação se animasse a acordar cedo, inclusive nosso professor. Antes do sol raiar, sim, ele apareceu tímido entre as nuvens, eu rolava na cama de um lado para o outro, ansioso do dia que teríamos pela frente. Ainda experimentaríamos a nova genoa (vela maior da frente).

Ainda atracados içamos a Mestra e deixamos a genoa pronta para içá-la tão logo fosse possível. Ligamos o motor para auxiliar a saída, e só; então desligamos. A nova genoa mostrou serviço ainda no Canal do Iriri e percebemos uma diferença de desempenho; o barco ficou mais rápido, e o que confirmamos depois e é melhor, manteve sua estabilidade.

Nos deslocamos com rapidez até a Ponta das Galinhas, extremidade do Capri, onde o canal, que na verdade é um rio, faz uma curva em formato de cotovelo antes de desaguar na Babitonga. Ali fizemos um bordo, para seguir baía adentro. Tudo muito tranquilo, a embarcação seguia com invejável estabilidade, o vento sul, nessas condições não é puro, ou seja, ele perde sua intensidade e um pouco da direção por causa dos morros e matas, passando por cima da baía evitando assim incomodar a água. Parecia uma velejada domingueira, se é que me entende?







Seguimos nessa tranquilidade e conforto perpassando praia do Capri, Farol do Sumidouro, praia do Forte... Tirávamos fotografias, estava quase ficando chato, quase! Quando então iniciamos a abordagem do Morro João Dias em nosso través de boreste, local onde funcionou por décadas o Forte Marechal Luz e hoje é o segundo ponto turístico mais importante de São Francisco do Sul; estávamos chegando à barra da baía Babitonga!

O que nós perceberíamos in loco é que a baía Babitonga é abrigada do vento sul, a BAÍA! Gradativamente, nossa abordagem à barra foi se mostrando punk, ou pior, heavy metal. O vento foi apertando pois agora ele era puro e vinha quase na cara. As ondas não eram grandes, mas chegavam a quebrar e eram todas desencontradas. O pano todo em cima, parecia regata oceânica, o barco estava bem adernado. Às vezes, como que pra testar a tripulação, entrava uma rajada, o barco orçava bastante querendo entrar no vento. Cruzamos o canal dos navios e, para piorar, pela nossa bochecha de boreste estava a caminho um bruta montes a toda máquina, bufando pelas suas chaminés, parecendo estar zangado com algum barquinho incauto que se atreve a cruzar o seu canal. Cruzamos o canal dos navios nessa navegada que parecia dentro de um liquidificador, para safarmos dos gigantes. Poderíamos ir até a ilha da Paz, mas ficaria tarde e eu, preocupado com o Victor que ficava escondidinho na cabine fui confortá-lo. Já estava mareado e foi só ficar um pouco na cabine com o Victor para a sensação de desconforto aumentar sobremaneira. Voltei ao cockpit, mas era tarde. Virei passageiro. Não foi a primeira vez, acredito que é devido mais ao nervosismo do que ao mar desagradável. Enquanto não chamei o tripulante imaginário chamado Hugo, não melhorei. Depois a gente volta a ficar normal quase que instantaneamente.

Cesar, achou por bem fazer o retorno no meio daquela bagunça, a Lê ajudou-o pois eu me encontrava em situação miserável. Aliás, a tripulação feminina estava curtindo a velejada e, diferente do Victor e eu, faziam festa. Dom Cesar não conta, pois demonstrava sua inabalável calma e controle, coisa de fazer inveja a qualquer monge budista.

Ainda na barra outro navio saindo da baía, depois de ter prestado seus serviços, cruzou com o grandalhão que havíamos encontrado antes.

Gradativamente deixamos a barra em direção à praia do Forte novamente e tão logo a praia se mostrou pra nós o mar também acalmou. Estávamos de novo no paraíso, velejada domingueira, que saudades de você baiazinha abrigadinha! Juntei meus cacos e me recompus. Acredito que fiquei muito nervoso imaginando aquela situação sozinho no leme, acho que faria a volta e deixaria para uma outra vez! Agradeço novamente a oportunidade de ter conhecido Dom Cesar (como respeitosamente o colega Juca Andrade apelidou-o). Não fosse ele nosso aprendizado seria bem mais lento e quiçá temeroso. Às vezes, esse aprendizado a respeito de barcos e do mar não é algo muito confortável e prazeroso, porém necessário e intensivo. Dom Cesar quis testar a têmpera da tripulação já que pra ele não há novidade nisso tudo, navegador das costas do litoral do Paraná e Santa Catarina. Agora é assimilar as lições e aplicá-las no momento adequado.


Grande abraço da nossa família desde a Babitonga, até a próxima ancoragem, e que ela seja bem abrigada!


Chuvinha intermitente no través da praia do Capri


Chegada à barra


Costão do Morro João Dias e Ilha dos Veados ao fundo


Ilha da Paz


Entre os dois morros a praia de Itaguaçu, do lado esquerdo, Ubatuba


No retorno, a praia do Forte com suas instalações militares


Retorno à praia do Capri


6 comentários:

  1. Ola, Familia.

    O bom de tudo isso e que as velas funcionarão rsrsrs.

    Eu também, a semana passada fui conhecer mais uma ilha do nosso litoral paranaense, chama-se ilha Eufrasina, pedimos informações para os nossos amigos na marina e eles indicaram certinho onde era a ilha, e fomos nos, levantamos a vela um ventinho de 3 a 4 nós .A minha esposa viu no Gps que tinha coral ela ficou com medo e desviamos um pouco, de repente bummmm o veleiro parou encalhamos novamente rsrsrs, já até perdi as contas quantas vezes isso aconteceu resumindo não fomos na ilha tivemos que esperar a mare subir para desencalhar. já era tarde resolvemos ir embora. Mas retornaremos lá novamente no dias da mães.

    Abç a todos
    .

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    1. Que beleza Nilson, ficamos curiosos sobre a ilha Eufrasina! Com a família ajudando a coisa fica mais divertida.

      O Hoje! veio com ecobatímetro, o que, de certa forma ajuda um pouco a monitorar a profundidade, mas seu consumo é razoável, só se se justifica deixá-lo ligado quando estamos nos aproximando do local onde pretendemos fundear ou onde sabemos haver pouca profundidade. Não adianta, temos que apanhar um pouco para aprender, e como os mais velhos contam, encalhar é até corriqueiro para quem navega em lugares com muito baixios. Preocupante mesmo são as pedras, o resto a gente tira de letra, não é mesmo?

      Vocês são insistentes! E tem que ser assim mesmo, mande notícias sobre a nova ilha que descobriram.

      Abraços da nossa família à sua desde a Babitonga!

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  2. Puxa Rico, que beleza de velejada!! E que bom ter uma companhia como o Dom Cesar prá transmitir experiência e segurança. Eu velejo 'solo' porque me falta um tripulante dessa estirpe!! Não por vontade, acredite!! O Juca disse que viria velejar comigo no Gaipava, (viu Juca Andrade!!) , mas até agora nada....
    Parabéns a todos a assim, de velejada em velejada vamos forjando nosso 'caráter náutico'!!!!
    abraços!!

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    1. Sem dúvida Cmte. Stark, Dom Cesar turbina nosso aprendizado. Nessa última velejada aprendemos um pouco mais sobre a regulagem da Genoa.

      Pelo jeito o Juca não tem saudades do Atol 23, está muito ocupado com o Malagô! [risos] Juca, é só uma brincadeira!

      Muito obrigado pelos elogios e palavras, abraços desde a Babitonga!

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  3. Blz Rico.

    Fica tranquilo quando colocarmos o pé na ilha mandamos noticia.

    Os; tem noticias do VIVRE, faz tempo que ele não escreve, será que esta tudo bem com ele.



    Abç

    Nilson

    Abç

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    1. O comandante do Vivre é o Walnei Antunes, acho que está atarefado, só isso, de vez em quando trocamos comentários. Vá até o blog do Vivre e pergunte você mesmo, assim ele se anima!

      Abraços.

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