Semana passada, mandei mensagem ao
Wagner perguntando se ainda estava de pé o convite feito anteriormente por ele e
sua Almiranta, a Neusa, para conhecermos o Leva
Vento, um MOD 40 recém-adquirido e cuidado a “pão de ló” pelo antigo
proprietário. Respondeu positiva e entusiasticamente como quem quer mostrar o
filho recém-adotado. Embarcamos, eu e Luciane, para conhecermos o Leva Vento. Luciane e Neusa não se
conheciam e esta foi uma ótima oportunidade.
Wagner Meiga é o nome do Comandante do Leva Vento. Temos um laço de amizade
com ele desde o lançamento do Hoje!,
quando o Luciano Saraiva, hoje professor de Vela do JIC (Joinville Iate Clube),
convocou-o para ajudá-lo no delivery
do Capri até o Museu Nacional do Mar. Essa história eu já contei aqui no blog e para conhecê-la ou revê-la clique aqui. Wagner é natural de São José dos
Pinhais, região metropolitana de Curitiba. É piloto e confidenciou-me que teve
a oportunidade de trabalhar em regiões rurais para exercer uma de suas paixões,
a aviação, porém, a paixão pelo Mar falou mais alto e não conseguiu ficar
distante por muito tempo. Exímio praticante de Kite e Wind Surf, depois
que veio morar em São Francisco do Sul, não mais voltou e sua paixão pelo Mar
só se intensificou. Introvertido por natureza, quando se solta, expele pérolas humorísticas
bem ao seu tom.
Na outra semana, Wagner nos envia mensagem
convidando para a regata organizada pelo JIC e a Flotilha Norte Catarinense de
Veleiros de Oceano, a FNCVO. Empolgados, aguardávamos ansiosamente a
participação em nossa primeira regata.
Para fazer parte da tripulação ele
convidou a Marina Brushi, personagem que já figurou nesse blog, quando
precisamos de ajuda num dia de sufoco em que o Hoje! “fugiu” da poita. Caso não conheça essa história ou queira relembrá-la clique aqui. A Marina hoje é Coordenadora
do Museu Nacional do Mar. Devolve toda sua devoção ao Mar e barcos se dedicando
ao árduo trabalho de fazer o Museu sobreviver com recursos esparsos. Tarefa
árdua, pois todos sabemos, em nosso país, a educação é algo relegado ao
supérfluo e cultura, principal e infelizmente, a náutica; dessa maneira, é tida
como um artigo de luxo. Sempre é convidada para tripular diversos barcos, pois
endossa sua experiência e muito boa vontade, resultado de várias travessias
pela costa brasileira e também por várias regatas que correu em diversos lugares.
Sábado, 14.03.2015. Às dez horas chegávamos
ao Museu Nacional do Mar, local onde fica apoitado o Leva Vento. De acordo com a previsão os ventos viriam do quadrante
leste, a princípio, de intensidade irrisória, fato que se confirmou. Saímos a
motor por dois motivos: falta de vento e para chegar a tempo da largada, que
seria em frente à entrada do Capri às 12 horas.
Partida do Museu
Nacional do Mar
Içando a Mestra
através de sua respectiva adriça e catraca
Bate papo com a
tripulação do Azzurro antes da largada
Luciane feliz da
vida em sua primeira regata
Luciane e Marina na
expectativa da largada
Veleiros Azzurro
(Skipper 21) e Kraken (Skipper 30) se preparando para a largada
Para não queimarmos a largada, tivemos
que dar um jaibe, o que nos deixou de popa para a saída. A nosso bombordo
tínhamos o veleiro Catarina que pela
regra de regata nos pediu “água”, ou seja, tinha direito de passagem, o que nos
fez ficar entre eles e o barco da CR (Comissão de Regata) a boreste, fomos então
obrigados a utilizar o motor para não abalroá-los; procedimento aceito dentro
do regulamento, visto que tem como objetivo assegurar a integridade das
embarcações e tripulações (Vide súmula com o resultado final no rodapé desta postagem).
Depois do apito de partida, de acordo
com a regra, ainda temos 20 minutos para cruzar a linha e iniciar o trajeto de
regata. O vento mirrado não nos ajudava; o Leva
Vento é um portentoso e elegante barco de 40 pés e devido ao seu peso,
proporcional ao seu tamanho, não se desloca com qualquer brisa. Temíamos não
largar e então a frustação não poderia ser escondida. Com paciência, atributo
digno de todo velejador que se preze, aguardamos o momento certo. Efetuamos o
jaibe e então iniciamos nosso deslocamento, cruzando a linha de partida e
rumando em direção à barra da baía Babitonga. Como o vento vinha praticamente “na
cara”, e barco à vela não velejam de cara para o vento, fizemos os costumeiros,
trabalhosos, mas também, prazerosos, bordos. Ziguezagueando e costurando o
canal da baía, ora colocando a proa na praia de Itapoá, chegando bem perto dos
pesqueiros, ora aproando até a praia do Capri, local pouco povoado, devido à
área preservada.
Sentimos, através das cambadas, que o
Leva Vento, por sua característica
de barco de cruzeiro, orça e aderna suavemente, oferecendo muito conforto aos
seus tripulantes; um legítimo “cruza-mares”, mas, sem perder em desempenho, o
que é uma surpresa agradabilíssima.
Nossa abordagem à barra foi morosa
devida à largada atrapalhada, dessa maneira desgarramos dos outros veleiros e,
segundo o Comandante Wagner, não fosse isso, estaríamos muito próximos, ou até na
retaguarda deles.
Como ninguém de nós é profissional, a
coisa toda só pôde ser encarada, senão, como uma brincadeira de gente grande, e
o resultado, do começo ao fim, foi muita diversão. Os ventos nos foram mais
favoráveis, aumentando um pouco de intensidade, variando entre 10 e 12 nós. Éolo, quem sabe, sendo menos rigoroso
nos concedeu o prazer de uma aprendizagem tranquila e sem solavancos.
Tão logo nos aproximamos do Arquipélago
das Graças, fizemos a abordagem da Ilha dos Veados até muito próximos dela,
quando cambamos a bombordo, contornando-a. Iniciamos a volta das ilhas, fato
inédito para eu e Luciane, e podemos observar o visual inóspito da Ilha da Paz,
onde se localiza o Farol, pela visão de quem vem pelo mar; grande experiência!
Como bem explicitado pelo Comandante, a vegetação daquele lado da ilha é baixa
devida à incidência do vento sul, que sopra com intensidade e rigor.
Contornamos o arquipélago usando
todas as posições possíveis nas velas (mareações), até, finalmente, adentrar a baía
novamente, com o vento em popa; em asa de pombo.
Perto da chegada, meio que por
castigo, com a correnteza contra, ultrapassamos o veleiro Catarina, do mesmo
comandante que havia nos pedido “água”, não aliviando nossa largada, o que nos
atrapalhou um pouco. Com muito bom humor, afinal, tudo é uma confraria de
colegas, brincamos que não chegaríamos por último. O barco da comissão de
regata aguardava na linha de chegada e apitou sinalizando o término de nossa
participação. Permanecemos nesse rumo, em asa de pombo, até a chegada ao Museu
e radiantes nos aproximamos da poita do Leva
Vento. Chegando ao Museu, alguns colegas de outros veleiros, vindos do JIC,
mas não participantes da regata, ali se encontravam e nos cumprimentamos e
conversamos sobre o dia bonito, ou qualquer coisa que enfatize a vida à vela que
nos causa grande prazer, como é de costume entre velejadores. Para comemorar,
Marina trouxe cervejas Itaipava, e, inevitavelmente, lembrei que os colegas
velejadores e blogueiros paulistas apreciam muito a bebida. Estupidamente
geladas, devido a geladeira eficientíssima do Comandante, degustamos e
celebramos a regata, à nossa amizade e à vida!
Agradecemos a oportunidade, companhia
e experiência concedidas pelo Wagner e Marina e aguardamos com agradável
ansiedade a próxima regata.
É com esses ventos favoráveis que nos
despedimos embarcando cada vez mais na vida náutica, coisa que é de um valor
imensurável, e se tiver dúvida, tente também, tenho certeza; isso poderá mudar
sua vida irreversivelmente.
Grande abraço da nossa família à sua,
bons ventos e mares desde a Babitonga!
Comandante do
veleiro Catarina (Ranger 22) pedindo“água”
Emparelhados,
prontos para o apito de partida
Marina feliz depois
de ajustar a Genoa num bordo
Num bordo, rumando
até a praia de Itapoá, lado esquerdo do baía Babitonga para quem está saindo
Comandante Wagner
tocando seu barco e curtindo a velejada
Popa do Leva Vento
e sua esteira
Muita água depois
do trabalho nas catracas
Ao largo nossos
oponentes aproximavam-se do arquipélago das Graças
Abordagem à Ilha
dos Veados
Visão de quem vem
pelo mar da Ilha da Paz e seu Farol
Farol da Ilha da
Paz visto do mar
Nenhum veleiro
ancorado na Ilha da Paz, é dia de Regata!
Comandante Wagner
brincando com a tripulação do Catarina
Veleiro Catarina e
seu bonito balão pela nossa esteira
Catarina visto por
nossa popa
O belo MOD 40,
motivo de orgulho do Comandante Wagner
Posando na volta ao
Museu do Mar, radiantes depois da experiência da regata através do Leva Vento
Opa! Blog atualizado, leitor assíduo feliz! Bons ventos desde a baía de Santos!!!
ResponderExcluirGrande Capitão Juca! Seu comentário muito nos alegra, obrigado pela presença virtual!
ExcluirLegal vê-los de volta!! Bons Ventos sempre!!
ResponderExcluirGrande Cmte. Stark! Obrigado pela presença assídua e o comentário pontual. Ficamos felizes da sua passagem por aqui, bons ventos!
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