terça-feira, 17 de março de 2015

A primeira regata a gente nunca esquece!

         Semana passada, mandei mensagem ao Wagner perguntando se ainda estava de pé o convite feito anteriormente por ele e sua Almiranta, a Neusa, para conhecermos o Leva Vento, um MOD 40 recém-adquirido e cuidado a “pão de ló” pelo antigo proprietário. Respondeu positiva e entusiasticamente como quem quer mostrar o filho recém-adotado. Embarcamos, eu e Luciane, para conhecermos o Leva Vento. Luciane e Neusa não se conheciam e esta foi uma ótima oportunidade.


         Wagner Meiga é o nome do Comandante do Leva Vento. Temos um laço de amizade com ele desde o lançamento do Hoje!, quando o Luciano Saraiva, hoje professor de Vela do JIC (Joinville Iate Clube), convocou-o para ajudá-lo no delivery do Capri até o Museu Nacional do Mar. Essa história eu já contei aqui no blog e para conhecê-la ou revê-la clique aqui. Wagner é natural de São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. É piloto e confidenciou-me que teve a oportunidade de trabalhar em regiões rurais para exercer uma de suas paixões, a aviação, porém, a paixão pelo Mar falou mais alto e não conseguiu ficar distante por muito tempo. Exímio praticante de Kite e Wind Surf, depois que veio morar em São Francisco do Sul, não mais voltou e sua paixão pelo Mar só se intensificou. Introvertido por natureza, quando se solta, expele pérolas humorísticas bem ao seu tom.

         Na outra semana, Wagner nos envia mensagem convidando para a regata organizada pelo JIC e a Flotilha Norte Catarinense de Veleiros de Oceano, a FNCVO. Empolgados, aguardávamos ansiosamente a participação em nossa primeira regata.

Para fazer parte da tripulação ele convidou a Marina Brushi, personagem que já figurou nesse blog, quando precisamos de ajuda num dia de sufoco em que o Hoje! “fugiu” da poita. Caso não conheça essa história ou queira relembrá-la clique aqui. A Marina hoje é Coordenadora do Museu Nacional do Mar. Devolve toda sua devoção ao Mar e barcos se dedicando ao árduo trabalho de fazer o Museu sobreviver com recursos esparsos. Tarefa árdua, pois todos sabemos, em nosso país, a educação é algo relegado ao supérfluo e cultura, principal e infelizmente, a náutica; dessa maneira, é tida como um artigo de luxo. Sempre é convidada para tripular diversos barcos, pois endossa sua experiência e muito boa vontade, resultado de várias travessias pela costa brasileira e também por várias regatas que correu em diversos lugares.

Sábado, 14.03.2015. Às dez horas chegávamos ao Museu Nacional do Mar, local onde fica apoitado o Leva Vento. De acordo com a previsão os ventos viriam do quadrante leste, a princípio, de intensidade irrisória, fato que se confirmou. Saímos a motor por dois motivos: falta de vento e para chegar a tempo da largada, que seria em frente à entrada do Capri às 12 horas.


Partida do Museu Nacional do Mar


Içando a Mestra através de sua respectiva adriça e catraca


Bate papo com a tripulação do Azzurro antes da largada


Luciane feliz da vida em sua primeira regata


Luciane e Marina na expectativa da largada


Veleiros Azzurro (Skipper 21) e Kraken (Skipper 30) se preparando para a largada

Para não queimarmos a largada, tivemos que dar um jaibe, o que nos deixou de popa para a saída. A nosso bombordo tínhamos o veleiro Catarina que pela regra de regata nos pediu “água”, ou seja, tinha direito de passagem, o que nos fez ficar entre eles e o barco da CR (Comissão de Regata) a boreste, fomos então obrigados a utilizar o motor para não abalroá-los; procedimento aceito dentro do regulamento, visto que tem como objetivo assegurar a integridade das embarcações e tripulações (Vide súmula com o resultado final no rodapé desta postagem).

Depois do apito de partida, de acordo com a regra, ainda temos 20 minutos para cruzar a linha e iniciar o trajeto de regata. O vento mirrado não nos ajudava; o Leva Vento é um portentoso e elegante barco de 40 pés e devido ao seu peso, proporcional ao seu tamanho, não se desloca com qualquer brisa. Temíamos não largar e então a frustação não poderia ser escondida. Com paciência, atributo digno de todo velejador que se preze, aguardamos o momento certo. Efetuamos o jaibe e então iniciamos nosso deslocamento, cruzando a linha de partida e rumando em direção à barra da baía Babitonga. Como o vento vinha praticamente “na cara”, e barco à vela não velejam de cara para o vento, fizemos os costumeiros, trabalhosos, mas também, prazerosos, bordos. Ziguezagueando e costurando o canal da baía, ora colocando a proa na praia de Itapoá, chegando bem perto dos pesqueiros, ora aproando até a praia do Capri, local pouco povoado, devido à área preservada.

Sentimos, através das cambadas, que o Leva Vento, por sua característica de barco de cruzeiro, orça e aderna suavemente, oferecendo muito conforto aos seus tripulantes; um legítimo “cruza-mares”, mas, sem perder em desempenho, o que é uma surpresa agradabilíssima.

Nossa abordagem à barra foi morosa devida à largada atrapalhada, dessa maneira desgarramos dos outros veleiros e, segundo o Comandante Wagner, não fosse isso, estaríamos muito próximos, ou até na retaguarda deles.

Como ninguém de nós é profissional, a coisa toda só pôde ser encarada, senão, como uma brincadeira de gente grande, e o resultado, do começo ao fim, foi muita diversão. Os ventos nos foram mais favoráveis, aumentando um pouco de intensidade, variando entre 10 e 12 nós. Éolo, quem sabe, sendo menos rigoroso nos concedeu o prazer de uma aprendizagem tranquila e sem solavancos.

Tão logo nos aproximamos do Arquipélago das Graças, fizemos a abordagem da Ilha dos Veados até muito próximos dela, quando cambamos a bombordo, contornando-a. Iniciamos a volta das ilhas, fato inédito para eu e Luciane, e podemos observar o visual inóspito da Ilha da Paz, onde se localiza o Farol, pela visão de quem vem pelo mar; grande experiência! Como bem explicitado pelo Comandante, a vegetação daquele lado da ilha é baixa devida à incidência do vento sul, que sopra com intensidade e rigor.

Contornamos o arquipélago usando todas as posições possíveis nas velas (mareações), até, finalmente, adentrar a baía novamente, com o vento em popa; em asa de pombo.

Perto da chegada, meio que por castigo, com a correnteza contra, ultrapassamos o veleiro Catarina, do mesmo comandante que havia nos pedido “água”, não aliviando nossa largada, o que nos atrapalhou um pouco. Com muito bom humor, afinal, tudo é uma confraria de colegas, brincamos que não chegaríamos por último. O barco da comissão de regata aguardava na linha de chegada e apitou sinalizando o término de nossa participação. Permanecemos nesse rumo, em asa de pombo, até a chegada ao Museu e radiantes nos aproximamos da poita do Leva Vento. Chegando ao Museu, alguns colegas de outros veleiros, vindos do JIC, mas não participantes da regata, ali se encontravam e nos cumprimentamos e conversamos sobre o dia bonito, ou qualquer coisa que enfatize a vida à vela que nos causa grande prazer, como é de costume entre velejadores. Para comemorar, Marina trouxe cervejas Itaipava, e, inevitavelmente, lembrei que os colegas velejadores e blogueiros paulistas apreciam muito a bebida. Estupidamente geladas, devido a geladeira eficientíssima do Comandante, degustamos e celebramos a regata, à nossa amizade e à vida!

Agradecemos a oportunidade, companhia e experiência concedidas pelo Wagner e Marina e aguardamos com agradável ansiedade a próxima regata.

É com esses ventos favoráveis que nos despedimos embarcando cada vez mais na vida náutica, coisa que é de um valor imensurável, e se tiver dúvida, tente também, tenho certeza; isso poderá mudar sua vida irreversivelmente.


Grande abraço da nossa família à sua, bons ventos e mares desde a Babitonga!


Comandante do veleiro Catarina (Ranger 22) pedindo“água”


Emparelhados, prontos para o apito de partida


Marina feliz depois de ajustar a Genoa num bordo


Num bordo, rumando até a praia de Itapoá, lado esquerdo do baía Babitonga para quem está saindo


Comandante Wagner tocando seu barco e curtindo a velejada


Popa do Leva Vento e sua esteira


Muita água depois do trabalho nas catracas


Ao largo nossos oponentes aproximavam-se do arquipélago das Graças


Abordagem à Ilha dos Veados


Visão de quem vem pelo mar da Ilha da Paz e seu Farol


Farol da Ilha da Paz visto do mar


Nenhum veleiro ancorado na Ilha da Paz, é dia de Regata!


Comandante Wagner brincando com a tripulação do Catarina


Veleiro Catarina e seu bonito balão pela nossa esteira


Catarina visto por nossa popa


O belo MOD 40, motivo de orgulho do Comandante Wagner


Posando na volta ao Museu do Mar, radiantes depois da experiência da regata através do Leva Vento


Registro do anoitecer embarcado no Leva Vento




Resultado oficial da regata

4 comentários:

  1. Opa! Blog atualizado, leitor assíduo feliz! Bons ventos desde a baía de Santos!!!

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    1. Grande Capitão Juca! Seu comentário muito nos alegra, obrigado pela presença virtual!

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    1. Grande Cmte. Stark! Obrigado pela presença assídua e o comentário pontual. Ficamos felizes da sua passagem por aqui, bons ventos!

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