domingo, 27 de julho de 2014

Travessia


         Sejam muito bem-vindos novamente a esse espaço virtual que é feito de forma caseira e artesanal e tem o amor ao mar como motor principal. Desde a última experiência marítima não atualizamos o blog e com os últimos acontecimentos isso faz-se mais que oportuno. Nesses últimos dois meses muita água passou debaixo do casco e quem quiser aprender um pouquinho com as experiências que tivemos pode ler as postagens mais antigas remetendo-se ao passado escolhendo pelos meses na barra lateral direita.

Tem sido através desse singelo meio de comunicação que, hora somos influenciados através de Blogs como dos antes apenas colegas virtuais e agora amigos, Juca Andrade da Escola de Vela Cusco Baldoso, Ricardo Stark do minucioso veleiro Gaipava, Walnei Antunes do divertido Vivre, etc. e hora influenciamos, num ciclo sinergético virtuoso as pessoas que estão vibrando na mesma frequência, almejando uma vida mais leve, ideal, sustentável e mais todas essas coisas que não saem da boca do povo mas que na prática é ainda, apenas utopia para a grande maioria. Sim! Um barco a vela nos ensina de forma estritamente pragmática muitas coisas que são apenas teoria perfumada pra vender produto politicamente incorreto.

O Mar, presente em 71% da superfície terrestre, elemento que habita nosso inconsciente e consciente de alguns poucos, fascina o homem desde, muito provavelmente, que ele tem consciência da sua grandiosidade. Muito antes de sonhar em voar, o homem navegava. Essa prática arcaica está indelevelmente registrada em nosso DNA, pois nossos antepassados obrigatoriamente navegavam, pois mesmo a milhas de distância de um oceano, os índios sempre conduziram habilmente suas canoas nos rios, independente da altitude em que habitavam.

Isso pode ajudar a explicar o interesse cada vez maior das pessoas em navegar. Podemos, mesmo que involuntariamente, tornamo-nos seres urbanos e modernos, mas essa via é um saco sem fundo. Apenas iludimos e ludibriamos nossos sentidos os inebriando com matéria insípida, incapaz de alimentar adequada e profundamente nossa alma. Esse palpitar faz-se de forma sutil, e na correria das grandes cidades é sempre abafado pelo excesso de estímulo. Mas, nossa alma cobra um grande preço caso não seja atendida resultando disso seu adoecimento. E quais seriam os sintomas desse adoecimento? Horas! Essa é uma pergunta muito profunda e difícil e a resposta não é tão fácil. Como não somos profissionais no assunto arriscaremos apenas alguns esboços. Como seres humanos carecemos de experiências reveladoras de nosso verdadeiro caráter. Não somos máquinas, nem tão pouco somos orientados por relógios, exceto o biológico que tem ritmos e funcionamento próprios. Somos 100% orgânicos, um dia voltaremos ao estado inicial de onde viemos e toda e qualquer desvio do caminho é alertado através do corpo, mensageiro do espírito. O homem teve sempre essa necessidade antropológica de conectar-se ao sagrado, divino, eterno, etc. seja lá qual for o termo criado para designar isso, é comum à toda humanidade. A maneira como se manifesta é que difere.

Nós, enquanto entes humanos, sentimos uma grande necessidade de nos diferenciar. Isso é natural e como tudo que é natural é bem-vindo, praticamente obrigatório. Precisamos afirmarmo-nos como únicos, e realmente somos. Nesse caminho inequívoco nos manifestamos cada qual à sua maneira. Precisamos refazer a conexão perdida com a natureza e é nesse sentido que um barco nos coloca em contato íntimo com a natureza nos suprindo, fornecendo e alimentando a alma em direção à necessidade primeira. Podemos ter todas as condições que a sociedade vende como imprescindíveis e ainda assim carecer da essência, tornando-se assim mendigos espirituais.

Todos carecem de minutos de silêncio a sós, pelo menos uma vez ao dia. Todos carecem de um copo d’água potável tomado com parcimônia. Todos carecem do contato com a consciência que diz: “Você é único e importante.” E muitas dessas carências são supridas através dessa conexão perdida com a natureza. Ninguém precisa de um barco para isso, mas essa foi a desculpa que encontramos, é uma resposta à essa indagação interna. É a maneira como lidamos com isso. É nossa resposta, cada qual tem a sua.

Se você identificou-se com o que relatei, provavelmente é dos nossos, mas fique tranquilo, não estou vendendo nenhuma panaceia, é apenas o que nosso saudoso poetinha Vinicius de Moraes uma vez ilustremente intuiu: A vida é a arte do encontro.


A travessia apenas começou, caçemos os panos!

5 comentários:

  1. Cmte.Rico Floriani, já estava sentindo falta dos seus 'posts'....E ainda falta terminar a 'Saga' do Maranhão, ou já acabou?? Parabéns ao Julio, que adquiriu um excelente veleiro e de 'quebra', arranjou novos amigos. E o mar faz isso mesmo: agrega pessoas com os mesmos sentimentos , ideias e objetivos. E a finalidade do blog é sim, incentivar pessoas a alcançar seus sonhos (além de servir de diário de bordo). Obrigado pela menção prá lá de honrosa!! Abraços a todos!!

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    1. Muito obrigado colega da Vela, assíduo e participativo leitor. Ficamos todos felizes com suas palavras. Abraços!

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  2. Feliz e honrado em conhecer-te, Rico ! Parabéns pelo post ! Proponho um desafio a ti ! Lance um livro, meu amigo !

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    1. Felicidade e honra recíprocas então, obrigado pelo elogio! Fico tentado com seu desafio, porém, esperemos a hora certa dele nascer, quem sabe esse nosso Blog não é seu estágio embrionário?

      Grande abraço desde a sua baía Babitonga!

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