“Quem vai ao mar, avia-se em terra.” Provérbio
português
Há um tempo que não
escrevo no blog e com a “cobrança” dos colegas marinheiros, Ricardo Stark e
Juca Andrade, não pude deixar passar. Esse tempo que passou desde a primeira velejada solo foi de muito aprendizado. Quando chegamos com o Hoje! por terra
no balneário do Capri tivemos o prazer de conhecer um senhor chamado Cesar. Sabe
aquelas pessoas que tem um sonho (e dos grandes) e começa a colocar em prática
mesmo sabendo de todas as dificuldades e perrengues? Mesmo sabendo que poderão
chamá-lo de louco (e chamam) e assim mesmo mantém sua fé inabalável? Poderia me
alongar em adjetivos, mas, um só resume: personalidade. Já confidenciei
ao Cesar que ele lembra o meu avô pelo caráter mas, é jovem, e a comparação
termina por aqui. Ele merece uma postagem só com sua história, e, no momento
adequado, ela nascerá.
Nosso barquinho atracado ao flutuante
Durante essa lacuna
cronológica estivemos empenhados, Cesar e eu, na manutenção do pequeno Volvo Penta
de 7,5 cv de centro. Na verdade é um Honda de rabeta, marinizado pela Volvo. É um
motorzinho interessante e muito bem construído, segundo o Cesar, profundo
conhecedor de mecânica, disse só não ser perfeito por que não é a diesel. Com
uma paciência e experiência que eu nunca havia presenciado antes, ele foi
descobrindo os meandros e facetas do motorzinho e explicando-me como o mesmo
funciona, absorvi de acordo com minha bagagem, que não é muita. Algum
conhecimento sobre mecânica tenho, resquício de uma adolescência vivida numa
cidade grande, onde tudo gira em torno de automóveis.
O trabalho no motor
findou. A partida, que é manual, idem ao de um motor de rabeta, é feita com
facilidade. Está girando bonito, até o som mudou. A bomba de combustível, que
originalmente era mecânica, foi substituída por outra elétrica. O principal é
que agora ele está refrigerando, ou seja, a água salgada entra, através dos
dutos, e mantém a temperatura adequada. A parte elétrica do motor foi
inteiramente revisada e a bateria, desta forma é carregada, toda vez que o
motor está funcionando.
Desenho do motor de centro
Como essa parte
estava praticamente revisada, saímos, ali mesmo, no canal do Iriri, para uma
velejada curtinha para um teste. Tão logo desatracamos, Cesar desligou o motor.
Fiquei curioso, mas é assim mesmo, ele é daqueles velejadores que só usam o
motor quando não há outra alternativa. Pensei que
chegaríamos ao meio do canal com o motor e depois içaríamos as velas. O vento
estava nos empurrando contra o flutuante onde o Hoje! estava atracado, então
Cesar utilizou o motor para nos livrar dele, e então já o desligou. Fiquei
apavorado, pois ao nosso lado, em outro flutuante, estava atracado um iate, e o
vento, que não era ameno, nos empurraria em direção a ele. Quase que como
mágica, Cesar domou o barquinho e nos safou habilidosamente. Demonstrou em
alguns poucos minutos sua experiência, habilidade, e consequentemente,
facilidade no trato do barco. Demos alguns bordos, pois o vento assim exigia.
Conhecedor do lugar, chegávamos bem perto dos baixios e então cambávamos.
Incrível como a experiência traz consigo a tranquilidade. Para nosso deleite,
rajadas mais fortes e constantes começaram a entrar, estávamos voltando.
Usávamos só a Buja (vela da frente). Com aquelas rajadas ganhamos um pouco mais
de velocidade, durante esse retorno, Cesar me explicava que a vela precisava
ser esticada não só lateralmente, mas também para baixo, e mostrava-me isso
tensionando-a nessa direção. Isso aumentava o desempenho do barquinho (mais uma
coisa que deveremos adaptar). Para minha surpresa e empolgação, chegaríamos no
flutuante à vela, sim, é isso mesmo, para quê motor? (risos) Engraçado como
coisas tão simples nos empolgam tanto. Entre ter uma ideia e poder colocá-la em
prática é um caminho longo, e isso, estava vivenciando ali.
Em nossa sociedade,
atualmente, dada nossa cultura equivocada, estamos perdendo o hábito de
reverenciar os mais maduros e experientes. Acreditamos, incautos, que esses não
têm nada a nos ensinar. Um desperdício! E pasmem, eles estão lá pra nos
ensinar, contam com gosto sobre todas as aventuras que tiveram, basta pararmos
pra ouvir, é simples. Cabe aqui, nossa demonstração de gratidão profunda ao Cesar,
que nos ajuda, nos cobrando apenas dedicação, doando sua experiência, tempo e
paciência. Posso afirmar com certeza que a vida por aqui seria bem mais difícil
sem sua ajuda, meu amigo, obrigado!
Estamos revisando as
velas. A buja, provavelmente, será trocada por uma Genoa 150%, e vamos fazer um
exame na Mestra. Quiçá o Hoje! ganhará um novo jogo de velas, não é pra menos,
coitado, desde que nasceu não sabe o que são velas novas, essas que estão nele
são da velaria Pelicano, extinta há algum tempo.
Assim vamos nos
despedindo. Esses dias encontrei com o Paulo Reis e ele confidenciou que nossa
história é bem inspiradora e que é bom saber que alguém está fazendo isso por
aqui. Obrigado pelas palavras Paulo, isso nos impulsiona!
Tenham todos bons
ventos para poderem alcançar o porto que estão almejando. Abraços da família
Ville Floriani, até a próxima!
Bom Dia Família!! Após incessantes 'manifestações', até que enfim surgiu esse novo post. Mas vê se não demora, pois a cada um, sabemos que o Hoje tem atividade!! A propósito, Vê se o Cesar não quer passear pelas águas de Ubatuba!! Bom esse 'cara'!! Amigo é coisa prá se guardar a 7 chaves!! Portanto, soltem as amarras, chamem os amigos, icem as velas e 'bora velejar'!! Abraços!!
ResponderExcluirBom dia Cmte. Stark, obrigado pelo comentário e presença assídua! Como essa parte que descrevi acima é mais técnica preferi me abster um pouco, inclusive qualquer detalhe técnico, pergunte ao Cesar, ele manja muito. Próximo passo são as velas, e meu Mentor disse que é necessário que elas estejam perfeitas. Os trabalhos na pousada intensificam com a chegada da alta temporada de verão, então não estranhe se os posts escassearem, é por que esse é um reflexo de não darmos tanta atenção ao Hoje!, mas, com paciência, tudo vai se encaixando e não vamos deixar nosso barquinho atracado. Com certeza o que o Cesar está fazendo é coisa de amigo pois, essa ajuda é imensurável. Nem fale em soltar as amarras, dá até um comichão! Como diz o colega Hélio Viana, depois que a cobra d'água nos morde não tem mais volta. Grande abraço cmte., bons ventos e velejadas no Gaipava!
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